terça-feira, janeiro 09, 2007

Sobre Ursos e o João de Barro

Parece não ter fim essa busca pela plenitude. Às vezes chego a me questionar se ela de fato existe, mas desisti porque vi que esse tipo de questionamento não tem a função que deveria.
Tenho visto muitas coisas que me satisfazem ou quase isso, então as perguntas cessam. Há um tempo atrás elas haviam cessado e eu deixava toda a culpa ou vitória disso nas mãos de um joão de barro. Entendi por um momento que a vida ao lado do joão de barro era pouca, pobre e resolvi me unir a animais mais fortes, cheios de coragem e algumas certezas, cheios de uma vida que do lado do joão de barro eu só podia ver de longe, só pela janela. Me juntei aos ursos.
Sim, convivi com os ursos, me fartei em sua mesa por noites a fio, até adentrar em sua toca. Quando lá cheguei me encontrei no sonho, um desses que tantas vezes eu já tive e depois deixei de ter, mas achei que agora sim, agora era o sonho em sua concretização. Mas não era. Um belo dia andando leda, me chamou a atenção um certo som que me era tão familiar. Dor.
Como um tiro que me dilacerara o peito outrora, soou o João de Barro, no auge de seu esplendor. Foi então que por uma fresta da venda de sonhos sobre meus olhos eu vi que mesmo lá no tão longíquo desejo, mesmo lá, na toca dos ursos o João de Barro é rei. Soberano absoluto calado, no canto, ditando o que pensam os ursos e foi então que todos na toca perceberam, deixei transparecer que o meu sonho acabara. Massacre. Sugaram o sangue, insaciáveis, comeram a carne roeram os ossos e assim seguiu e não puderam parar até avistar o coração e fazer ele em mil pedaços.

Na toca dos ursos, joão de barro é soberano.

E só aí que todos aqueles questionamentos realmente cessaram, a plenitude é humana e eu parei de procurar entre tantos ursos e soberanos, me juntei aos humanos pra parar de buscar e ser, apenas.